22 nov Quem quer qualidade de vida, levanta a mão! Agora leia isso…
Você já deve ter percebido como todos os dias a paisagem se altera no bairro. Tudo cresce ao nosso redor. São dezenas de novos prédios em construção, um novo comércio se estabelecendo, carros, ciclovias e suas bicicletas, novas estações de metrô estão chegando aqui perto e assim vivemos num bairro em constante mudança.
O censo de 2010 aponta um acréscimo de quase 23 milhões de habitantes urbanos. A população jovem, não será mais a maioria e vêm reduzindo de tamanho. Os idosos aumentam e há uma drástica redução do número de pessoas por domicílio. Mais casas e apartamentos com menos pessoas e uma sensação de alerta fica para nós: a tão desejada qualidade de vida parece cada vez mais distante.
O crescimento desordenado dos bairros das grandes metrópoles não é um fenômeno apenas no Brasil. Ele aconteceu em muitas cidades dos Estados Unidos e em alguns países da América Latina. Mas esse crescimento cumulativo tem um preço e precisamos fazer algo para reverter o cenário.
É óbvio que você deve querer uma qualidade de vida melhor. E não somente para você, mas para todas as pessoas de sua família, caso tenha uma morando no bairro. Se você trabalha aqui e não mora, mais ainda, pois passa boa parte do tempo vivendo nesse local. Mas como ter qualidade de vida com tranquilidade, mais saudável, respirando um ar mais puro, ter menos barulho nas ruas e ao mesmo tempo ter o conforto desse crescimento com novo comércio, novas formas de se deslocar e novos moradores chegando todos os dias?
Será que esse desejo é impossível vivendo num dos milhares de bairros da cidade de São Paulo? Na edição anterior falei como vivemos em nossas “pequenas ilhas “ e por vezes blindamos tudo ao nosso redor. Por isso, pensei em tratar o assunto de qualidade de vida, um desejo provavelmente comum a todos. Moro há muitos anos no bairro e uma das coisas que mais amo na Chácara Klabin é a quantidade de passarinhos que muitas vezes me acordam para o dia com suas canções. É um privilégio para poucos. Me encanta também andar nas ruas com bananeiras, laranjas, mexericas, abacate e goiabeiras. Entendo isso como uma boa fração de qualidade de vida, seja pela beleza ao redor, mas também pela possibilidade de ter a natureza mais perto de mim. No entanto, vejo dois problemas que se agravaram nos últimos anos e devem incomodar você também.
Uma delas é a deterioração da cidadania e a outra o desequilíbrio social. Explicarei abaixo um pouco desse pensamento. Mas antes é legal alinhar com você sobre o entendimento do que é Qualidade de Vida. O termo é uma expressão que indica as condições de vida em que vivemos como ser humano. Envolve o bem físico, mental, relacionamentos sociais, emocional, psicológico, saúde e educação, ou seja, todos os vetores que afetam a nossa vida. O conceito foi criado pelo economista J.K. Galbraith, em 1958, e, de acordo com ele, as metas político-econômicas e sociais não deveriam ser as mais importantes, mas sim de melhoria em termos qualitativos das condições de vida dessas. Isso só seria possível através de um melhor desenvolvimento de infraestrutura social, ligado à redução das disparidades, tanto regionais como sociais, à defesa e conservação do meio ambiente, a melhoria da educação e da saúde entre outras. Se qualidade de vida para Galbraith é isso, vejo que meu desejo de ter uma vida melhor com qualidade tem os fatores de preocupação que citei acima. Quando abordo o tema deterioração da cidadania no bairro, me refiro, por exemplo, às pessoas que jogam lixo no chão, nas praças e nas calçadas.
Mesmo que ela não more no bairro, ela habita os espaços públicos. E mesmo assim, alguns moradores e não moradores insistem em inundar o bairro com lixo. Nem pensar em guardar num saquinho ou jogar numa lixeira. E pergunto se é falta de educação ou descaso. Deterioração de cidadania para mim é aquela pessoa que corre com seus carros potentes nas nossas pequenas ruas como se fossem pistas de corrida. Nem pensam em crianças e adultos que atravessam por ali. Nem imaginam que alguém de sua família pode estar atravessando uma delas e sofrer um acidente. Não imaginam que podem causar um acidente, se sentem confiantes demais. Numa manhã de terça feira, fazia sol, precisava caminhar e tinha que comprar frutas e legumes para casa. Como sou professora, busco fazer boa parte das tarefas pela manhã, sempre que posso. Também gosto de comprar dos comerciantes locais e assim resolvi ir à feira do bairro. Saindo de um prédio de alto padrão, uma mulher jovem, elegante e bonita, levava seu cachorro para o que imaginei, ser o passeio de rotina. Seguimos pela mesma rua, quando vi o cachorro depositando suas fezes na calçada. A mulher deu uma rápida olhada disfarçada para mim e seguiu em frente, sem sequer recolher as mesmas. Sem pedir desculpas, por estar fazendo isso na sua rua, na frente de seu prédio e onde ela mesmo habita. Procurei apertar o passo para alertá-la que ela havia “esquecido” do gesto mínimo que espero de um cidadão. Ela apertou o passo e literalmente correu como numa fuga patética, um filme de comédia. Não corri atrás dela, não adiantaria…
A qualidade de vida que eu quero e que talvez você queira também, passa por ter pessoas legais no bairro, cidadãs, que querem o melhor para o mundo e não atitudes como as que citei acima. O outro fator que me preocupa é o desequilíbrio social que gera uma violência coletiva. Tenho visto muitos jovens com drogas nas ruas, pequenos delitos no bairro e até grandes, com muita violência. Tenho visto mendigos dormindo nas nossas praças, na frente de comércios e até na avenida Fabio Prado. Vi cenas de motoristas de carro versus motoristas de bicicleta se agredindo e xingando mutuamente.
Certo dia uma senhora limpava uma calçada com água de reúso de chuva, mas foi atacada verbalmente por estar gastando água do bairro. Ela mal conseguiu se defender e pior, foi agredida de forma racista. Para mim, qualidade de vida é conviver amigavelmente com pessoas educadas, independentemente de suas condições sociais. É respeitar e ser respeitada, é caminhar com tranquilidade pelas ruas sem ser agredida ou assaltada. Mesmo que um morador ou trabalhador do bairro se ache imune aos problemas, é inevitável que absorverá e terá que arcar com as consequências. Elas vêm em forma de impostos, doenças, assaltos, delinquência juvenil. Toda ação tem uma reação e ela tem efeito bumerangue, voltando muitas vezes para o causador. Sei que não dá para resolver todos os problemas, mas será que podemos trabalhar nosso entorno para reduzir esses fatores? Não dá para parar de transferir a responsabilidade apenas para os nossos governantes (ainda que eles tenham sim que cumprir aquilo que prometeram)?
Profissional multifacetada com experiência de mais de 25 anos na área de Marketing e Inovação. Diretora da Inova 360º, empresa de Inovação e Negócios. Sócia da Storytellers Brand´N Fiction.
Não há comentários